Minha história com Daniel Barbará, o Mestre

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Esta semana fui informado sobre a morte de um dos maiores profissionais de propaganda que eu conheci. Neste caso, pessoalmente. Daniel Barbará sempre foi considerado um ícone na publicidade brasileira, um semi-deus, rodeado por todas as pompas, regalias e cuidados que celebridades deste calibre têm. E eu tive um momento muito especial, hoje engraçado, com este ilustre publicitário.

Lá pelos idos dos anos 90 eu era um menino recém chegado de uma longa temporada em Londres e, sinceramente, com todo o currículo que eu achava ter, estava totalmente perdido. Recebi, então, o convite do meu ex-chefe, Fernando Martins (da sucursal de Brasília do jornal Diário Popular de São Paulo), para trabalhar na sede do jornal, em São Paulo, com o objetivo de reforçar a já competente equipe de vendas de espaços publicitários no caderno principal do impresso. Não conhecia São Paulo, não conhecia as pessoas, muito menos as empresas e agências da cidade. O Sr. Edmilson Borin era o diretor da área e me deu a missão de atender agências de grande porte, agências que eu só tinha conhecido pela televisão e pelos badalados prêmios da comunicação brasileira. Uma destas agências era a DPZ. Daniel Barbará era seu Diretor de Mídia.

Minha chegada ao jornal coincidiu com o lançamento do Fiat Pálio pela DPZ, uma campanha publicitária que teria mídia impressa e que somente sairia em jornais que tivessem páginas coloridas. Não era o caso do Diário Popular. Era uma verba polpuda que, é óbvio, recebi a missão de conquistar um pedaço. Mesmo argumentando que não poderia veicular em nosso jornal, que era perto e branco, recebi um sonoro “se vira” do meu chefe. Falei com o departamento de mídia da DPZ inúmeras vezes e o “não” era uma resposta definitiva. O desespero batia à minha porta, principalmente porque o Sr. Borin não era dos mais pacientes e acalentadores chefes. Não pensei duas vezes: peguei o telefone de minha mesa e liguei para a secretária do poderoso Barbará para agendar uma reunião diretamente com ele. Até aí tudo bem. O que tinha demais? Era só uma reunião! Liguei, solicitei e aguardei confirmação. Uns 30 minutos depois, meu chefe sai louco, insano da sala dele vindo em minha direção e perguntando em altos brados: “- Quem foi o maluco, imbecil que marcou uma reunião com o Daniel Barbará?”. O departamento inteiro parou. Não se escutava nada e todos se entreolhavam. Gelei por dentro e por fora. Acho que, instantaneamente, percebi a besteira que havia feito, mesmo sem saber ainda o porquê. Levantei a mão timidamente, como que não querendo ser notado, mas todo o departamento de noticiário olhou para mim. A reprovação era total. O Edmilson Borin também me olhou. Achei que ele iria me dar um tiro. Se ele tivesse uma arma, com certeza daria.

Ele veio caminhando em minha direção gritando que eu era louco por ter incomodado uma pessoa como o Sr. Barbará. “-Ninguém liga para o Daniel assim! Você é louco, maluco ou está de sacanagem comigo?”. Eu não tinha espaço para falar. Apenas olhava, perplexo, a cena toda. Ele falou, falou, falou e, por fim, me chamou na sala dele juntamente com o meu gerente imediato. Depois de escutar cobras e lagartos, todos os tipos de impropérios, finalmente decidi mandar tudo às favas e enfrentar meu ensandecido chefe. Falei: “-Você não queria a campanha do Pálio a todo custo? Recebi dezenas de “nãos” e decidi que somente o Daniel Barbará poderia me ajudar. Marquei com ele. E pronto!”. Sai da sala batendo a porta sabendo que já estava demitido, quando no meio do caminho até minha mesa a secretária da seção chama meu nome alto e fala, um tanto assustada: “-Wander, telefone para você! É o Sr. Daniel Barbará! Ele quer saber se você pode estar com ele ainda hoje à tarde para tratar do assunto da campanha. Confirmo ou não?”. Incrédulo, mais uma vez todo o departamento olhou para mim com um espanto indescritível. Edmilson Borin estava em pé, na porta, me olhando sem acreditar. Eu, também atônito e assustado com todo o resultado do meu pedido de reunião, enchi o peito, me fingi dono da situação, olhei para a secretária e disse: “Óbvio que é para marcar. Diga a ele que posso às 16h. Nem antes, nem depois!”. Todo o departamento aplaudiu de pé. A campanha de lançamento do Fiat Pálio veiculou em nosso jornal sendo o único veículo de comunicação que não teve cores no anúncio. Uma vitória!

Ah, o Sr. Daniel foi um gentleman, um espetáculo de pessoa ao me receber na DPZ. Parece que nos conhecíamos há anos, mesmo sendo aquela a única vez que nos vimos. Fica aqui o registro.

Grande perda para o mercado publicitário. Obrigado, Daniel. Por sua causa, minha moral aumentou muito no Diário Popular. Vá com Deus.

 

 

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Wander Innocencio